A diretora Claire Denis propõe uma sofisticada e perversa formatação em "Bastardos" (2013). Ela pega boa parte do clichês básicos de filmes policiais envolvendo vingança e investigação de fatos obscuros e os remodela sob uma ótica bastante pessoal. Quando o protagonista Marco (Vincent Lindon) envereda para um mundo sombrio em busca das razões que levaram ao suicídio de seu cunhado e ao declínio mental de sua sobrinha Justine (Lola Creton) o espectador pode ter até a impressão inicial que verá uma tradicional trama envolvendo busca de pistas, descobertas surpreendentes (ou nem tanto) e uma conclusão catártica envolvendo violência e redenção. Ocorre, entretanto, que para Denis interessa muito mais os liames psicológicos e a conotação simbólica da trama que expões do que elaboradas coreografias de tiros e lutas. O processo de descoberta dos segredos sórdidos que envolvem sua família não tem o significado apenas da solução de um crime, mas, mais impactante ainda, representam uma desolada jornada de autodescoberta existencial para o próprio protagonista, em que ficam evidenciados o seu vazio e alienação emocionais, não havendo possibilidade de seus pecados por inócuos atos de brutalidade. A rigorosa abordagem estética de Denis enfatiza ainda mais a atmosfera melancólica de desesperança do filme - encenação, fotografia e edição remetem a um cinema descarnado e objetivo, que dispensa floreios formais e elimina quaisquer possibilidades de abrandamento sentimental para os personagens. A conclusão de "Bastardos" é coerente com as intenções da diretora, tanto no anticlimática morte de Marco quanto na exposição das imagens granuladas de um vídeo amador mostrando o estupro de Justine com um sabugo de milho cometido pelo próprio pai.
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