Em um primeiro momento, "Hardware - O destruidor do futuro" (1990) poderia ser encarado apenas como uma cria típica da época em que foi lançado, na sua mistura de aventura futurista apocalíptica na linha "Mad Max" com terror B repleto de violência explícita. E isso não seria demérito algum - operando dentro dos lugares comuns habituai s dos gêneros em questão e contando com um orçamento bem abaixo das produções norte-americanas de grandes estúdios, o diretor sul-africano Richard Stanley, em seu longa-metragem de estreia, revela-se bastante eficiente na condução da narrativa ao combinar com maestria cenas de ação bem coreografadas, uma tensa atmosfera sombria, sanguinolência na medida exata e uma criativa direção de arte na caracterização visual de um futuro poeirento, sórdido e desolado. Além disso, Stanley consegue imprimir um toque pessoal e diferenciado em sua obra nas nuances metafísicas e metafóricas que acrescenta à trama. A simbologia que permeia o roteiro pode ser simples na contraposição de seus signos (a sensibilidade feminina da protagonista versus a aridez emocional da máquina assassina), mas ganha uma dimensão sensorial extraordinária em algumas sequencias, principalmente naquela da morte do amante da personagem principal, cuja encenação adquire um grau de poética religiosidade na forma sutil com que se desenrola. E a ótima trilha sonora de Simon Boswell, que faz lembrar os temas de faroeste-espaguete de Enio Morricone numa perspectiva eletrônica/rocker, coroa mais uma das escolhas artísticas acertadas de Stanley e é mais um dos motivos para que "Hardware" seja esse pequeno clássico da ficção científica a ser descoberto.
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