sexta-feira, agosto 01, 2014

O prazer, de Max Ophüls ****


Dentro da relação literatura e cinema, o cineasta austríaco Max Ophül atinge um patamar diferenciado em “O prazer” (2013). Adaptando três contos do escritor francês Guy de Maupassant, o diretor encontra soluções formais extraordinárias para transformar o texto original numa narrativa cinematográfica bastante autoral. Para tanto, ele traz um narrador que faz as vezes do próprio Maupasssant, contando com um tom sóbrio e levemente impessoal pequenas fábulas morais relacionadas ao prazer, preservando as minúcias da bela prosa do escritor. Ophüls, entretanto, não se limita a fazer uma “literatura filmada”. Na verdade, o que dita o ritmo da sua narrativa é o seu requintado trabalho de direção de fotografia, em que a câmera flutua soberbamente em planos seqüência que são muito mais reveladores da complexidade e ironia das situações e da profundidade psicológica dos personagens do que o próprio texto do narrador. Esse barroquismo visual característico de Ophüls combinado ao misto de leveza, melancolia e ironia das histórias concebidas por Maupassant resultam numa obra de estranho encanto estético e textual, que parecem pertencer a uma outra dimensão existencial e não apenas ligada a um simples realismo.

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