Dentro da relação literatura e cinema, o cineasta austríaco
Max Ophül atinge um patamar diferenciado em “O prazer” (2013). Adaptando três
contos do escritor francês Guy de Maupassant, o diretor encontra soluções
formais extraordinárias para transformar o texto original numa narrativa
cinematográfica bastante autoral. Para tanto, ele traz um narrador que faz as
vezes do próprio Maupasssant, contando com um tom sóbrio e levemente impessoal
pequenas fábulas morais relacionadas ao prazer, preservando as minúcias da bela
prosa do escritor. Ophüls, entretanto, não se limita a fazer uma “literatura
filmada”. Na verdade, o que dita o ritmo da sua narrativa é o seu requintado
trabalho de direção de fotografia, em que a câmera flutua soberbamente em
planos seqüência que são muito mais reveladores da complexidade e ironia das
situações e da profundidade psicológica dos personagens do que o próprio texto
do narrador. Esse barroquismo visual característico de Ophüls combinado ao
misto de leveza, melancolia e ironia das histórias concebidas por Maupassant
resultam numa obra de estranho encanto estético e textual, que parecem
pertencer a uma outra dimensão existencial e não apenas ligada a um simples
realismo.
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