A união entre os cineastas Cao Guimarães e Marcelo Gomes
para dirigir “O homem das multidões” (2012) não é gratuita. Ainda que marcados
por alguns detalhes de encenações diferentes, seus filmes anteriores apresentam
semelhanças significativas na concepção e condução de suas narrativas. Essa
sintonia existencial/artística se mostra cristalina na obra em questão. O que
se vê na tela é um cinema descarnado, depurado de excessos supérfluos e que se
concentra em nuances inusitadas e em um contundente sensorialismo audiovisual.
A trama e a encenação podem sugerir uma certa aridez emocional e estética, mas
aos poucos o filme vai se mostrando estranhamente sedutor no rigor de seus
planos-sequência, no contraste da sutileza da interpretação de Silvia Lourenço
com o despojamento da composição dramática de Paulo André, nas longas tomadas minimalistas
pelos cenários urbanos de Belo Horizonte. A partir desses preceitos formais, a
obra vai se constituindo tanto como um estranho e intimista conto sentimental
como para um perturbador e opressivo retrato da solidão na sociedade contemporânea.
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