terça-feira, agosto 12, 2014

O homem das multidões, de Cao Guimarães e Marcelo Gomes ***1/2


A união entre os cineastas Cao Guimarães e Marcelo Gomes para dirigir “O homem das multidões” (2012) não é gratuita. Ainda que marcados por alguns detalhes de encenações diferentes, seus filmes anteriores apresentam semelhanças significativas na concepção e condução de suas narrativas. Essa sintonia existencial/artística se mostra cristalina na obra em questão. O que se vê na tela é um cinema descarnado, depurado de excessos supérfluos e que se concentra em nuances inusitadas e em um contundente sensorialismo audiovisual. A trama e a encenação podem sugerir uma certa aridez emocional e estética, mas aos poucos o filme vai se mostrando estranhamente sedutor no rigor de seus planos-sequência, no contraste da sutileza da interpretação de Silvia Lourenço com o despojamento da composição dramática de Paulo André, nas longas tomadas minimalistas pelos cenários urbanos de Belo Horizonte. A partir desses preceitos formais, a obra vai se constituindo tanto como um estranho e intimista conto sentimental como para um perturbador e opressivo retrato da solidão na sociedade contemporânea.

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