As marcantes transformações sociais e econômicas pelas quais
o Brasil passou nos últimos anos e mesmo a conturbada situação política atual
do país fazem com que o cinema nacional, entre outros meios de expressão
cultural, queiram traduzir essa conjuntura em formato de obras cinematográficas.
O afã desse desejo tanto pode levar a trabalhos vigorosos quanto a produções
que naufragam em suas boas intenções. “Casa grande” (2014) fica no meio do
caminho. É de se admirar que o filme de Fellipe Barbosa tem como principal
virtude uma certa sutileza formal. A elegante direção de fotografia e a sóbria
edição conferem à narrativa a necessária atmosfera de “nobre decadência” que é
a tônica do roteiro. Por outro lado, a estrutura da trama é um tanto
mecanicista em excesso no seu jogo de simbolismos visuais e mesmo no discurso
panfletário de alguns diálogos, o que acaba sacrificando parte da fluência
narrativa. A sequência da discussão entre personagens sobre a questão de cotas
raciais, por exemplo, tem um teor virulento e didático, mas também cai na
armadilha do caricatural. É provável que “Casa grande” esteja conquistando
setores da crítica e público pelo fato de trazer à tona sob um olhar crítico e
irônico algumas questões polêmicas que ainda despertam comoção coletiva. Ou
seja, a obra está inserida no olho de um furacão que permanece gerando consequências
drásticas. A necessidade de se mostrar em sintonia com o presente momento histórico,
entretanto, afasta o olhar da produção de uma abordagem emocional distanciada
que lhe daria um subtexto mais atemporal e de maior profundidade existencial.
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