As intenções do diretor Ben Falcone parecem meio difusas em
relação ao seu filme “Tammy” (2014). A produção parece uma espécie de releitura
de “Thelma & Louise” (1991), impressão essa reforçada pela presença de
Susan Sarandon no elenco, mas também sugere aspirações a ser uma comédia dramática
de caráter contestatório cultural. Nesse último caso, Falcone busca elementos
que aparentemente fugiriam das convenções da simples diversão: seus personagens
ganhariam caracterizações mais realistas e menos glamourizadas, o roteiro
conteria elementos polêmicos (principalmente no que se refere a lesbianismo).
Na hora de colocar em prática todas essas intenções e ideias, entretanto, o
resultado fica bem distante do que se pretendia. Culpa, principalmente, da
direção pouco imaginativa de Falcone. O filme nunca acerta o tom daquilo que
pretende, aparentando uma indefinição artística. Sua encenação é burocrática e
desprovida de espontaneidade, e que fica ainda pior diante de uma trama que se
perde em fórmulas manjadas. Mesmo aquilo que era para ter um caráter de incômodo
temático recebe um tratamento tão pueril e piegas que acaba retirando quaisquer
possibilidades de tensão e dimensão mais profunda (na visão adocicada e
distorcida da obra, um romance lésbico, por exemplo, é marcado por uma
beatitude em que o casal nunca aparece se beijando ou tendo um contato físico
mais intenso). Talvez a interpretação de Melissa McCarthy no papel-título seja
o reflexo exato dos equívocos de “Tammy”: o que era para ser uma interpretação
de viés naturalista acaba se tornando apenas um pastiche caricatural e
sentimental de uma típica norte-americana “white trash”.
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