terça-feira, abril 14, 2015

Tammy, de Ben Falcone *


As intenções do diretor Ben Falcone parecem meio difusas em relação ao seu filme “Tammy” (2014). A produção parece uma espécie de releitura de “Thelma & Louise” (1991), impressão essa reforçada pela presença de Susan Sarandon no elenco, mas também sugere aspirações a ser uma comédia dramática de caráter contestatório cultural. Nesse último caso, Falcone busca elementos que aparentemente fugiriam das convenções da simples diversão: seus personagens ganhariam caracterizações mais realistas e menos glamourizadas, o roteiro conteria elementos polêmicos (principalmente no que se refere a lesbianismo). Na hora de colocar em prática todas essas intenções e ideias, entretanto, o resultado fica bem distante do que se pretendia. Culpa, principalmente, da direção pouco imaginativa de Falcone. O filme nunca acerta o tom daquilo que pretende, aparentando uma indefinição artística. Sua encenação é burocrática e desprovida de espontaneidade, e que fica ainda pior diante de uma trama que se perde em fórmulas manjadas. Mesmo aquilo que era para ter um caráter de incômodo temático recebe um tratamento tão pueril e piegas que acaba retirando quaisquer possibilidades de tensão e dimensão mais profunda (na visão adocicada e distorcida da obra, um romance lésbico, por exemplo, é marcado por uma beatitude em que o casal nunca aparece se beijando ou tendo um contato físico mais intenso). Talvez a interpretação de Melissa McCarthy no papel-título seja o reflexo exato dos equívocos de “Tammy”: o que era para ser uma interpretação de viés naturalista acaba se tornando apenas um pastiche caricatural e sentimental de uma típica norte-americana “white trash”.

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