quinta-feira, abril 16, 2015

Força maior, de Ruben Östlund ***


As intenções do diretor sueco Ruben Östlund em “Força maior” (2014) são bem claras – ao mostrar a história das conturbadas férias de uma família num elitista hotel em meio aos alpes franceses, a produção se configura como uma espécie de conto moral sobre as hipocrisias e contradições que regem a típica família pequeno-burguesa na sociedade contemporânea. Para isso, o cineasta adota uma narrativa rigorosa tanto na sua encenação quanto na progressão de simbologias que surgem na trama. Mesmo a abordagem psicológica da obra é marcada por um senso cirúrgico na sua exposição, em que prevalece o distanciamento emocional e um perverso senso de humor. A dissecação das relações humanas é realizada com detalhismo e requinte, fazendo com que cada gesto, silêncio e expressão facial de personagens carregue significados diversos. Mesmo um coadjuvante como o empregado do hotel, por exemplo, ganha uma forte importância para a obra. Dentro de tal formalismo tão controlado, é inegável que o filme consegue gerar tensão em algumas cenas, além de algumas seqüências serem efetivamente divertidas no seu humor negro. Ou seja, num contexto geral pode ser considerado uma narrativa envolvente. Por outro lado, entretanto, essa estética beira a assepsia visual e dramática, tirando parte da fluência e da densidade humana dos personagens, que ficam com uma propensão para o caricatural. Ainda sim, “Força maior” é uma obra que preserva bastante do seu caráter instigante e de contestação, o que não deixa de ser um mérito no meio de tantas produções acomodadas típicas dos cinemas de shopping.

Nenhum comentário: