As intenções do diretor sueco Ruben Östlund em “Força maior”
(2014) são bem claras – ao mostrar a história das conturbadas férias de uma família
num elitista hotel em meio aos alpes franceses, a produção se configura como uma
espécie de conto moral sobre as hipocrisias e contradições que regem a típica
família pequeno-burguesa na sociedade contemporânea. Para isso, o cineasta
adota uma narrativa rigorosa tanto na sua encenação quanto na progressão de
simbologias que surgem na trama. Mesmo a abordagem psicológica da obra é
marcada por um senso cirúrgico na sua exposição, em que prevalece o
distanciamento emocional e um perverso senso de humor. A dissecação das relações
humanas é realizada com detalhismo e requinte, fazendo com que cada gesto, silêncio
e expressão facial de personagens carregue significados diversos. Mesmo um
coadjuvante como o empregado do hotel, por exemplo, ganha uma forte importância
para a obra. Dentro de tal formalismo tão controlado, é inegável que o filme
consegue gerar tensão em algumas cenas, além de algumas seqüências serem
efetivamente divertidas no seu humor negro. Ou seja, num contexto geral pode
ser considerado uma narrativa envolvente. Por outro lado, entretanto, essa estética
beira a assepsia visual e dramática, tirando parte da fluência e da densidade
humana dos personagens, que ficam com uma propensão para o caricatural. Ainda
sim, “Força maior” é uma obra que preserva bastante do seu caráter instigante e
de contestação, o que não deixa de ser um mérito no meio de tantas produções
acomodadas típicas dos cinemas de shopping.
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