quinta-feira, abril 02, 2015

O senhor do labirinto, de Geraldo Motta **




Ter a figura do artista popular Arthur Bispo do Rosário como protagonista já poderia ser um elemento promissor para que a cinebiografia “O senhor do labirinto” (2010) fosse uma obra com possibilidades criativas relevantes. Afinal, Bispo oferecia em sua arte uma estranha e fascinante combinação de loucura, misticismo e sensibilidade e que refletia com bastante fidelidade a sua conturbada trajetória de vida, especialmente pelo longo período em que viveu em um sanatório devido ao fato de ser esquizofrênico com vários episódios de alucinações e delírios. O direcionamento formal adotado pelo cineasta Geraldo Motta, entretanto, é frustrante pelo convencionalismo e falta de criatividade na maneira com que retrata a vida de Bispo. Sua encenação é engessada e destituída de vigor, chegando por vezes a resvalar num didatismo estéril e enfadonho. Mesmo as atuações de bons atores como Flávio Bauraqui e Irandhir Santos ficam comprometidas por composições excessivamente artificiosas e pela pesada maquiagem que dificulta perceber variações nas expressões dos intérpretes.

Tanto no início quanto na conclusão de “O senhor do labirinto” há seqüências que envolvem violentos e angustiantes devaneios mentais e espirituais de Bispo, onde Motta encontra soluções estéticas que fogem do tom acadêmico acomodado que predomina na maior parte da narrativa. Faz pensar como seria o filme se o diretor tivesse adotado essa linha formal mais ousada como método principal de encenação e montagem. Também é curioso constatar que é apresentada durante a obra trechos de um documentário “Prisioneiro da passagem” (1982), também tendo Arthur Bispo do Rosário como centro de sua temática e que nesse pequeno tempo de projeção se mostra muito mais poético e em sintonia artística e existencial com o seu protagonista do que esse “O senhor do labirinto”.

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