Ter a figura do artista popular Arthur Bispo do Rosário como
protagonista já poderia ser um elemento promissor para que a cinebiografia “O
senhor do labirinto” (2010) fosse uma obra com possibilidades criativas relevantes.
Afinal, Bispo oferecia em sua arte uma estranha e fascinante combinação de
loucura, misticismo e sensibilidade e que refletia com bastante fidelidade a
sua conturbada trajetória de vida, especialmente pelo longo período em que
viveu em um sanatório devido ao fato de ser esquizofrênico com vários episódios
de alucinações e delírios. O direcionamento formal adotado pelo cineasta
Geraldo Motta, entretanto, é frustrante pelo convencionalismo e falta de
criatividade na maneira com que retrata a vida de Bispo. Sua encenação é
engessada e destituída de vigor, chegando por vezes a resvalar num didatismo
estéril e enfadonho. Mesmo as atuações de bons atores como Flávio Bauraqui e
Irandhir Santos ficam comprometidas por composições excessivamente artificiosas
e pela pesada maquiagem que dificulta perceber variações nas expressões dos intérpretes.
Tanto no início quanto na conclusão de “O senhor do
labirinto” há seqüências que envolvem violentos e angustiantes devaneios
mentais e espirituais de Bispo, onde Motta encontra soluções estéticas que
fogem do tom acadêmico acomodado que predomina na maior parte da narrativa. Faz
pensar como seria o filme se o diretor tivesse adotado essa linha formal mais
ousada como método principal de encenação e montagem. Também é curioso
constatar que é apresentada durante a obra trechos de um documentário
“Prisioneiro da passagem” (1982), também tendo Arthur Bispo do Rosário como
centro de sua temática e que nesse pequeno tempo de projeção se mostra muito
mais poético e em sintonia artística e existencial com o seu protagonista do
que esse “O senhor do labirinto”.
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