Os trabalhos anteriores do diretor norte-americano J.C.
Chandor, “Margin Call – O dia antes do fim” (2011) e “Até o fim” (2013), eram
dramas eficientes na sua combinação de temática adulta e sóbria abordagem artística.
Não chegavam a ser necessariamente obras de grandes arroubos criativos, mas
evidenciavam que Chandor era um nome a se prestar atenção. Dito isso, por
melhor que fossem tais expectativas, não dava para supor com alguma certeza que
viria logo depois uma produção tão brilhante e madura quanto “O ano mais
violento” (2014). Nesse filme, o cineasta não só aperfeiçoa as qualidades
mencionadas antes como também oferece uma dimensão ainda mais profunda para
suas concepções formais e de conteúdo. Para começar, o roteiro é primoroso na
forma com que expõe os meandros dos fatos e personagens que compõem a trama,
sem precisar apelar para maniqueísmos e fáceis simplificações. Pelo contrário:
os dilemas do protagonista Abel Morales (Oscar Isaac) são dissecados em todas
as suas complexidades. Sua busca obsessiva em ser bem sucedido nos seus negócios
comerciais sem utilizar expedientes escusos tem muito mais a ver com uma visão
empresarial do que com um sentido ético e moral. Dentro de uma trama tão cheia
de nuances psicológicas e mesmo sociais, a estética perpetrada por Chandon é
precisa – partindo de uma narrativa de estilo clássico, há uma grande preocupação
na elaboração de uma ambientação tensa e por vezes melancólica, em que a
fotografia de tons sombrios e a encenação que valoriza gestos, expressões e silêncios
compõem uma atmosfera pesada e sufocante, havendo espaço também, contudo, para econômicas
e impactantes sequências de ação e forte violência gráfica. Chandon ainda se
revela um expressivo diretor de atores – além da bela composição dramática de
Isaac, há atuações extraordinárias por parte de Jessica Chastain e Albert
Brooks.
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