Apesar de Phillip Roth ser um dos escritores que eu mais
gosto, confesso que ainda não li “A humilhação”, novela literária da qual o
filme “O último ato” (2014) é uma adaptação. Ainda sim, dá para sentir nos diálogos
e algumas situações do roteiro muito da verve cruel e irônica que são habituais
na escrita de Roth. E esse é um dos principais méritos dessa obra dirigida por
Barry Levinson: ao mostrar a história de Simon Axler (Al Pacino), um veterano
ator teatral em crise artística e existencial, a narrativa equaciona de forma
orgânica e convincente elementos de literatura e teatro dentro uma linguagem
cinematográfica. O resultado dessa combinação é coerente e funcional porque
abarca com precisão o vasto turbilhão psíquico e emocional que abala o
protagonista da obra, um sessentão que se angustia pelas limitações físicas e
psicológicas que o impedem de atuar de forma satisfatória, pela própria decadência
da velhice e pelo fato de estar apaixonado por uma tresloucada lésbica
arrependida (Greta Gerwig) bem mais jovem que ele. O viés principal do
formalismo de “O último ato” é de uma encenação naturalista, mas que por vezes,
de forma pungente, fica impregnado por uma atmosfera de delírio e loucura que
acompanha justamente a dissolução mental do personagem principal. Como subtexto
e pano de fundo dessa intensa saga pessoal, prevalece uma visão lúcida e ácida
sobre a natureza da arte no mundo atual, marcado pela indiferença e baixo nível
cultural. Diante desse quadro conturbado, as soluções encontradas pelo filme
fogem de soluções fáceis e óbvias: para Simon, não há grandes possibilidades de
redenção, restando para ele apenas se arrastar como um dinossauro ferido rumo
ao seu destino final. A violenta e simbólica conclusão de “O último ato”
sintetiza de forma exemplar esse amargo direcionamento.
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