quarta-feira, abril 15, 2015

O último ato, de Barry Levinson ***1/2


Apesar de Phillip Roth ser um dos escritores que eu mais gosto, confesso que ainda não li “A humilhação”, novela literária da qual o filme “O último ato” (2014) é uma adaptação. Ainda sim, dá para sentir nos diálogos e algumas situações do roteiro muito da verve cruel e irônica que são habituais na escrita de Roth. E esse é um dos principais méritos dessa obra dirigida por Barry Levinson: ao mostrar a história de Simon Axler (Al Pacino), um veterano ator teatral em crise artística e existencial, a narrativa equaciona de forma orgânica e convincente elementos de literatura e teatro dentro uma linguagem cinematográfica. O resultado dessa combinação é coerente e funcional porque abarca com precisão o vasto turbilhão psíquico e emocional que abala o protagonista da obra, um sessentão que se angustia pelas limitações físicas e psicológicas que o impedem de atuar de forma satisfatória, pela própria decadência da velhice e pelo fato de estar apaixonado por uma tresloucada lésbica arrependida (Greta Gerwig) bem mais jovem que ele. O viés principal do formalismo de “O último ato” é de uma encenação naturalista, mas que por vezes, de forma pungente, fica impregnado por uma atmosfera de delírio e loucura que acompanha justamente a dissolução mental do personagem principal. Como subtexto e pano de fundo dessa intensa saga pessoal, prevalece uma visão lúcida e ácida sobre a natureza da arte no mundo atual, marcado pela indiferença e baixo nível cultural. Diante desse quadro conturbado, as soluções encontradas pelo filme fogem de soluções fáceis e óbvias: para Simon, não há grandes possibilidades de redenção, restando para ele apenas se arrastar como um dinossauro ferido rumo ao seu destino final. A violenta e simbólica conclusão de “O último ato” sintetiza de forma exemplar esse amargo direcionamento.

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