Assim como “Um sonho de liberdade” (1994) e “À espera de um
milagre” (1999), obras anteriores dirigidas por Frank Darabont, “Cine Majestic”
(2001) é marcado por elementos formais e temáticos que fazem com que por vezes
a obra chafurde num convencionalismo incômodo: a narrativa previsível, o
roteiro repleto de clichês sentimentais, interpretações afundadas na sacarina,
a música melosa que sublima as sequências mais edificantes ou “emocionantes”. Ainda
sim, dá para sentir no filme algumas inquietações artísticas e mesmo sociais
que mostram que Darabont não é um tarefeiro qualquer de Hollywood. A conjunção
do subtexto de tom crítico da trama, a atmosfera nostálgica e o belo trabalho
de direção de arte resulta em uma obra que transita com desenvoltura e
sensibilidade entre a estilização e um certo onirismo. Pode-se até dizer que a
visão histórica da produção seja pontuada por uma ótica superficial, mas na
verdade a recriação temporal de “Cine Majestic” é muito mais vinculada a uma
concepção imaginária de uma época do que a uma reconstituição realista. Tais
concepções estéticas depois foram melhores trabalhadas por Darabont naquele que
é o seu melhor trabalho, o extraordinário filme de terror “O nevoeiro” (2007).
No mais, a caracterização ácida que se faz sobre a perseguição a supostos
comunistas infiltrados na Hollywood dos anos 50 acaba ganhando uma inesperada ressonância
e atualidade no Brasil contemporâneo, onde setores da sociedade e da mídia
demonizam qualquer ideário de tendências de esquerda.
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