O diretor Paul Vecchiali leva as possibilidades criativas da
narrativa audiovisual ao limite em “Noites brancas no píer” (2014). Na sua
concepção artística, a narrativa naturalista seria insuficiente para abarcar as
suas intenções estéticas. Dessa forma, sua obra é uma exuberante síntese de elementos
de literatura, teatro, dança e música, dando origem a um inquietante híbrido
cinematográfico. Essa abordagem formal da produção valoriza imensamente a
beleza do texto original literário de Dostoievski, mas a sua fidelidade à obra
que a inspirou não implica em simples literatura filmada. Pelo contrário – a dinâmica
narrativa se vale muito da direção de fotografia de enquadramentos e iluminação
expressivos e da montagem de ritmo sóbrio. O tom de distanciamento emocional e
a atmosfera de forte tensão dramática soam contrastantes, mas tal conjunção também
tem um efeito sensorial desconcertante. Vecchiali oferece uma encenação
vigorosa na sua combinação de composição cênica espartana e valorização da
expressividade das atuações da sua dupla de protagonista, fazendo com que
embates verbais intensos e balés alucinados joguem o filme para uma estranha e
fascinante dimensão.
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