segunda-feira, abril 27, 2015

Um jovem poeta, de Damien Manivel ***


A trama de “Um jovem poeta” (2014) é básica em sua construção e clara em expor as intenções do filme, mostrando a rotina de um escritor numa cidadezinha litorânea francesa para buscar a inspiração para os seus primeiros poemas. Assim, bastante daquilo que se poderia esperar em uma obra como essa consta no roteiro: a procura por uma musa inspiradora, a rejeição amorosa por essa mesma musa, caminhadas pelo vilarejo e conversa com os nativos, jornadas de dissipação à base de álcool, contemplação de belos cenários paradisíacos. Mas a previsibilidade da produção é enganadora. O que interessa para o diretor Damien Manivel é mostrar que poesia não é algo que brota da inspiração e imaginação de um artista com tanta facilidade. O que se vê na tela é o lado cru e sem concessões da jornada de um poeta inexperiente: sua falta de tato para lidar com o gênio feminino imprevisível, sua fragilidade física perante um calor praieiro torrencial, as sofridas ressacas, ou seja, a sensibilidade não lapidada em confronto com a dura realidade da vida. Manivel escolhe uma concepção formal ambivalente que retrata com fidelidade os dilemas artísticos e existenciais do protagonista, em que o registro estético capta por vezes de forma deslumbrante a beleza dos cenários por onde passa o personagem principal, mas também adota uma atmosfera seca e naturalista ao evidenciar a sua rotina de tédio e frustração em um ambiente que na verdade lhe é inóspito.

Um comentário:

Marcelo Castro Moraes disse...

Tai um que eu deveria já ter assistido. Visitem o meu blog de cinema: http://cinemacemanosluz.blogspot.com