A trama de “Um jovem poeta” (2014) é básica em sua construção
e clara em expor as intenções do filme, mostrando a rotina de um escritor numa
cidadezinha litorânea francesa para buscar a inspiração para os seus primeiros
poemas. Assim, bastante daquilo que se poderia esperar em uma obra como essa
consta no roteiro: a procura por uma musa inspiradora, a rejeição amorosa por
essa mesma musa, caminhadas pelo vilarejo e conversa com os nativos, jornadas
de dissipação à base de álcool, contemplação de belos cenários paradisíacos.
Mas a previsibilidade da produção é enganadora. O que interessa para o diretor
Damien Manivel é mostrar que poesia não é algo que brota da inspiração e
imaginação de um artista com tanta facilidade. O que se vê na tela é o lado cru
e sem concessões da jornada de um poeta inexperiente: sua falta de tato para
lidar com o gênio feminino imprevisível, sua fragilidade física perante um
calor praieiro torrencial, as sofridas ressacas, ou seja, a sensibilidade não
lapidada em confronto com a dura realidade da vida. Manivel escolhe uma concepção
formal ambivalente que retrata com fidelidade os dilemas artísticos e
existenciais do protagonista, em que o registro estético capta por vezes de
forma deslumbrante a beleza dos cenários por onde passa o personagem principal,
mas também adota uma atmosfera seca e naturalista ao evidenciar a sua rotina de
tédio e frustração em um ambiente que na verdade lhe é inóspito.
Um comentário:
Tai um que eu deveria já ter assistido. Visitem o meu blog de cinema: http://cinemacemanosluz.blogspot.com
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